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Deus, que será de ti, de Rainer Maria Rilke


Vista do Guarujá, 1954. Foto de Alice Brill
Vista do Guarujá, 1954. Foto de Alice Brill


Deus, que será de ti quando eu morrer?

Eu sou teu cântaro (e se me romper?)

A tua água (e se me corromper?)

Sou teu agasalho, sou teu afazer.

Vai comigo o significado teu.


Não tens mais sem mim aquela casa, Deus,

que com quentes palavras te acolhia.

Perdem teus pés exaustos as macias

sandálias: também elas eram eu.


De ti desprende-se o teu longo manto.

O teu olhar, que a minha face, quente

coxim acolhe, virá entrementes,

virá procurar-me longamente


e deitar-se depois, ao sol poente,

entre pedras estranhas, nalgum canto.

Deus, que será de ti? Tenho medo, tanto...




Was wirst du tun,Gott...


Was wirst du tun, Gott, wenn ich sterbe?

Ich bin dein Krug (wenn ich zerscherbe?)

Ich bin dein Trank (wenn ich verderbe?)

Bin dein Gewand und dein Gewerbe

mit mir verlierst du deinen Sinn.


Nach mir hast du kein Haus, darin

dich Worte, nah und warm, begrüßen.

Es fällt von deinen müden Füßen

die Samtsandale, die ich bin.


Dein großer Mantel läßt dich los.

Dein Blick, den ich mit meiner Wange

warm, wie mit einem Pfühl, empfange,

wird kommen, wird mich suchen, lange -


und legt beim Sonnenuntergange

sich fremden Steinen in den Schoß.

Was wirst du tun, Gott? Ich bin bange.




"Deus, o que será de ti" está em Poemas - O livro das horas, de Rainer-Maria Rilke. Tradução de José Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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